terça-feira, 28 de setembro de 2010

Capítulo I :parte II

Cheguei em casa e uma agradável surpresa esperava-me na sala de jantar era meu irmão, Francesco que veio visitar-me.Que alegria me trouxe!Fez-me esquecer dos momentos de tristeza em que vinha pensando.


-Que bons ventos o trazem meu irmão?...-Disse-lhe

-Não posso visitar minha irmã preferida sem levantar nenhuma suspeita de que ocorrem coisas ilícitas? -Respondeu-me por entre sorrisos.

-Irmã preferida e também a única. – Ressaltei.

-Oh minha irmã, vim ver-lhe, pois estou preocupado consigo!Como estás?Há tempos teu marido não vem, tive medo que se sintas muito sozinha. – Disse Francesco num tom preocupante.

-Fico imensamente grata com sua preocupação, e realmente tenho me sentido muito sozinha, mas por esses dias conheci uma vizinha, Anne de Riveri e seu irmão o Major Antoine, Anne e eu temos conversado muito, fazendo tricô, tocando valsas ou pintando.É uma excelente amiga! A propósito é moça solteira, de boa família e muito prendada...

-Já sei o que tu queres dizer minha irmã, tu já vens com essas conversas -Interrompeu-me Francesco a sorrir.

-E vem jantar em minha casa hoje - continuei.

-Tu não mudas Marie, sempre assim...-Exclamou Francesco.

Durante toda tarde fiquei na cozinha a preparar o jantar enquanto Francesco descansava de sua viagem, pensava então em meu marido!Quanta saudade tinha, quando ele iria voltar?Pensaria se sua saúde ia bem?Muitas preocupações vinham-me na mente!Meu pobre marido, assim a viajar por tanto tempo...Quase um ano que não o via..., Logo após nosso casamento já viajara, sentia-me sozinha e a solidão por vezes consumia-me de tal forma que mal dormia a noite, que nada mais preenchia a minha vida. Vagava por horas no tempo e no espaço quando no parque por certas vezes era uma tortura encontrar aquelas damas da sociedade que só falavam de maridos, filhos, conversas e o pior às vezes, doenças e tragédias.Aquilo matava-me por dentro.Que saudade tinha do meu marido que no tempo de noivado, que foi o maior que passamos juntos, falava-me de suas viagens, dos lugares que conhecia, da cultura que explorava, dos livros que lia!A enorme Europa parecia para ele seu mundo particular de tão bem que a conhecia!E trazia-me livros inovadores que mudavam nossa forma de pensar, refletir e agir na sociedade, aquilo trazia ainda mais luz para minha vida, a abriam-me a mente e o coração para um mundo novo, Forreli no tempo de noivado ajudou-me a expandir ainda mais meus horizontes...E nesses pensamentos fiquei mergulhada até quase a hora do jantar.

Chegou então a hora do jantar, Antoine e Anne chegaram na hora marcada, Anne parecia um anjo de tão linda e Antoine elegante como sempre!

Então Francesco desceu as escadas com um semblante de cansaço, mas se rosto enche-se de vida assim que olhou nos olhos de Anne, ficando ele paralisado por alguns segundos...

-Anne minha amiga, quero apresenta-lhe meu irmão Francesco.-disse-lhe acordando Francesco de seu transe.

Assim seguidamente apresentei-o ao Major

Francesco não quisera demonstrar, mas estava simplesmente fascinado por Anne, só eu como única irmã e melhor amiga percebia: as mãos trêmulas, suadas e mal conseguia servir o vinho e o olhar fixo nas palavras e no jeito dela, aquilo não me enganava, Francesco sempre fora assim, tímido e reservado, mas para mim, nada era segredo a seu respeito, tínhamos uma sincronia de pensamentos extraordinária.

Antoine e Francesco discursavam suas longas viagens e batalhas num duelo amigável de quem poderia ter tido mais aventuras: piratas, prisões, ilhas, índios e até coisas inimagináveis, como monstros marinhos e mulheres encantadas nos mares, Anne e eu ríamos imensamente com todas estas piadas de homens do exército e do modo como eles em poucas horas pareciam também amigos de infância, de longa data, afinavam-se perfeitamente, como Anne e eu.

Logo depois fomos para sala de estar para conversarmos, eu ao piano como sempre toquei uma delicada valsa e Francesco dirigiu-se a Anne dizendo-lhe:

- Dá-me o prazer dessa contra dança? Se o vosso irmão permitir é claro?

Antoine disse logo: -Por obséquio, já não agüento eu mais dançar com Anne, nas recepções e festejos que vamos...

Dançaram então não só uma, mas várias valsas, na terceira Antoine sentou-se junto a mim no piano a fim de ajudar-me, pois eles não paravam de dançar mais...Entre uma das valsas Antoine perguntou-me:

-Senhora. Marie vê o que eu vejo, ou estou a imaginar coisas?

-Se estás a imaginar estamos os dois, senhor Antoine-.

Respondi-lhe – Mas deixa estar vamos fingir que não estamos venda absolutamente nada, somos cegos e também invisíveis -Disse-lhe com um tom amável e risonho.

Tristemente as coisas boas duram pouco e aquela noite já findava, como um dia feliz de primavera.Há muito que não me sentia tão feliz, tão leve, aquela noite trouxe-me novamente lembranças de minha primeira juventude junto a Francesco e nossos primos, bons tempos aqueles.



No outro dia pela manhã, estava a colher flores no jardim e ouvia uma bela cantoria vinda de dentro da casa, era Francesco a sair, com um ar encarnado e um sorriso que iluminava.

- Francesco, que felicidade é...-Nem pude terminar minha pergunta e ele já havia agarrado-me pela cintura, levantando-me e dizendo -obrigado, obrigado – Deu-me três beijos na face, e partiu sem me dizer nada, nem ao menos onde ia, e se voltava para o almoço.

Francesco só voltara para o jantar, ainda muito feliz, e repetia sem parar:

-Temos que marcar outro jantar desses, sua comida ontem estava maravilhosa, tu tocavas como nunca, parecia uma melodia vindo da céu, tocada pelos próprios anjos...

-Que mais gostaste no jantar? Interrompi-o –E qual música?

-Seu Coq au vin, irmãzinha, estava divino, e ninguém toca Strauss no piano melhor que tu!-Respondeu-me

-Que bom que comeste Coq au vin e ouviste Strauss, sinal de que estarias neste mundo,... Se eu não tivesse feito Strognoff e tocado Mozart... Mas estás perdoado, por minha amiga Anne.Porém não cometa estas indelicadeza de novo.

Conversávamos um pouco, lembrando de nossa infância e de nossos pais, e tudo que nos fez muito felizes, a bondade e ternura de mamãe, e como nosso pai sempre fora compreensivo e generoso, o sonho deles era que nós, além de pessoas respeitáveis, fossemos grandes pessoas, tementes a Deus e de bom coração, e entre risos, dizíamos que eles quase conseguiram.

Nesse instante alguém bate à porta, assustei-me, pois àquelas horas quem podia ser!Então veio a criada com um mensageiro que chamou por Francesco.Conversaram a sós por um tempo, depois veio Francesco a falar comigo:

-Marie, minha irmã, temos que fazer uma viagem!

-Mas pra onde?Porque?-Interroguei-o

-Pode durar muito tempo, leve bastante coisa, partimos amanhã de manhã, sinto informá-la, mas seu marido não está bem!Não pode vir, pediu para vê-la, vou acompanhar-te, ele está agora no Marrocos, e não está nada bem!

-Oh! Meu irmão, se eu perder Marcelo, não quero nem pensar, o que fazer da minha vida...-Dizia abraçada ao meu irmão e ao mesmo tempo, que as lágrimas desciam em minha face como vindas de um riacho recém nascido.

Tive pouco tempo naquela noite, apenas de escrever um bilhete para minha amiga Anne que dizia assim:

“Minha amiga Anne”.

Desculpe partirmos assim, de repente sem nos despedir, mas meu marido está adoentado, muito grave, por isso a partida no amanhecer.Recebi a notícia esta noite, tenho que partir imediatamente para o Marrocos é lá que está meu querido Forreli, e Francesco vai acompanhar-me, posso demorar, então espero revê-la também meu irmão, assim como ao Major,.

Carinhosamente

Marie Casanova di Forreli.”“.

Ps: Mando-te o endereço para que possamos nos corresponder



Nesse tom de tristeza, iniciamos nossa viagem, que pressentia ser longa.Essa viagem era tudo ao contrário do que um dia sonhei: Sonhava viajar com meu querido Marcelo, onde ele mostraria os lugares que já conhecia, como as pirâmides do Egito, os canais de Veneza, Roma a cidade eterna e também Paris, lugares que ele conhecia como a palma de sua mão, e me descrevia como os lugares mais lindos do mundo.

Na África, sonhava ver também pessoas felizes sem qualquer tipo de separação imposta pela sociedade e também animais exóticos, daqueles de dar medo só de olhar, por serem grandes e ferozes, mas também livres, e a cultura totalmente diferente, em suas vestes, seu modo de agir e de falar.

Mas enquanto sonhava acordada, via pela janela da carruagem impressionantes paisagens como ressaltava a vista as pastagens do sul de meu país, cidades pequenas às vezes muito pobres e cheias de encantos.

Certa noite paramos para descansar já na Espanha e nessa pousada tivemos que atrasar a viagem em quatro dias, pois os cavalos estavam muito cansados, assim como nós.Na noite em que chegamos nessa hospedagem havia cinco dias em que a senhora havia ficado viúva e meu coração compadece-se dela.O nome dela era Agnes, os filhos já eram grandes, mas ela parecia muito sozinha. Na primeira noite Francesco estava mal disposto, então Agnes acompanhou-me no jantar, estive a contar o porquê de minha tão disparatada viagem.Agnes sentiu-se solidarizada com minha dor pois há pouco tinha perdido o marido, durante horas conversamos, Agnes contava-me de sua vida à frente da hospedagem que nos últimos anos tivera que levar a frente quase só, por causa da doença do marido e pelos filhos que tinham que estudar fora.Eram dois meninos que, agora recém formados, planejavam levar a mãe para a capital junto com eles e deixar a pequena vila onde ela viveu sua vida inteira.

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